quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O terceiro dia


Neste momento, o romance é escrito em bom ritmo. O autor dedica-se. O autor preocupa-se. O autor diverte-se. Ele nem sempre pode interromper outros compromissos. Às vezes, adia-os; às vezes, antecipa-os para se ver livre deles rapidamente; às vezes, consegue negá-los.
O autor é mais feliz do que pensa. Ele tem um emprego. Ele tem uma mulher. Ele tem uma casa. Ele tem um time de futebol que acumula mais vitórias que derrotas. Ele tem, aparentemente, boa saúde.
O autor deixou-me de lado quando começou seu trabalho por considerar-me, inicialmente, um personagem fraco; em seguida, desnecessário; finalmente, esquecido. Não fui sequer considerado como coadjuvante, um passante da cidade que merecesse sobreviver aos acidentes violentos da trama. Eu aceitaria ter sido convocado como o primeiro morto! Não fui.
O autor é meu primeiro inimigo. Seu emprego, sua mulher, sua casa, seu time e sua saúde, eu trabalharei para que tudo dure contra a degradação progressiva daquele que me esqueceu.
Meu segundo inimigo é quem narra o romance. Ele tem os mesmos atributos que eu, sobretudo, a mesma ausência de atributos que eu. Nossa diferença é que a ele foi delegada uma palavra, e essa palavra pode redimi-lo. Eu não tenho a mesma sorte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou totalmente solidário ou solitário com você, meu caro.
O autor não sabe o que é tensão:
Passa quase todo o tempo em casa, refletindo (não sei se sobre a obra);
Faz a esposa garantir o sustento do lar;
E não vê seu time correndo risco de rebaixamento...

Anônimo disse...

Bela tentativa, blogueiro sem nome, mas saiba que seu rancor e sua inveja descarregados na força de manter a escrita constante neste meio efêmero somente glória dará aos seus inimigos. A indiferença seria a melhor ferramenta, melhor que um blog, melhor que a internet, melhor até, quem sabe, que um livro outro...rio de sua inveja!